A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), braço da ONU voltado à segurança alimentar, anunciou nesta segunda-feira (28), em Adis Abeba, na Etiópia, que o Brasil está oficialmente fora do Mapa da Fome. Segundo o relatório SOFI 2025, a média dos anos de 2022 a 2024 coloca o país abaixo dos 2,5% da população em risco de subnutrição — critério que define a exclusão do mapa.
O governo Lula celebrou com entusiasmo, tratando o anúncio como prova incontestável do sucesso de sua política social. Mas, longe dos palanques, a reação foi mais cautelosa — e, para muitos, com razão.
Desde que reassumiu o Palácio do Planalto, o atual governo tem se notabilizado mais por discursos do que por entregas concretas. Até o momento, não foi apresentado nenhum programa social inovador que realmente justifique um salto tão expressivo em indicadores como os da FAO. A economia segue patinando, a dívida pública aumenta, os gastos da máquina federal disparam, e a população mais pobre continua sentindo no bolso o peso da desvalorização do real e da inflação sobre itens básicos.
Diante disso, não é de se estranhar que surjam dúvidas sobre o levantamento da ONU — especialmente quando se observa o timing da divulgação. Em meio à escalada da tensão comercial entre Brasil e Estados Unidos, marcada por trocas de farpas e ameaças de tarifas, o relatório cai como uma luva na estratégia de reposicionamento internacional do governo. Coincidência? Talvez. Mas o enredo tem cara de roteiro político — daqueles bem ensaiados.
Não é novidade que organismos internacionais, como a própria ONU, muitas vezes caminham lado a lado com narrativas ideológicas. Ao longo dos anos, diversos governos e especialistas já questionaram a neutralidade desses órgãos, especialmente quando os dados apresentados coincidem, de forma conveniente demais, com os discursos de aliados políticos.
A dúvida que paira no ar é simples: os números refletem a realidade concreta do país ou apenas uma versão palatável, feita sob medida para agradar o eleitorado interno e o público internacional?
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